domingo, 24 de novembro de 2013

Agricultores e agricultoras pernambucanos participam de intercâmbio em Santana do Ipanema-AL

Por Josiel Araújo - Comunicador
Intercâmbio Interestadual /Pernambuco-Alagoas
Polo Sindical-Coppabacs
Os intercâmbios fazem parte das atividades do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) com patrocínio da Petrobras e têm como objetivo a troca de experiências e saberes acumulados entre agricultores e agricultoras do Semiárido brasileiro.

Neste sentido, o Polo Sindical dos/as Trabalhadores/as Rurais do Submédio São Francisco – PE/BA, com o total apoio da Cooperativa dos Pequenos Agricultores Agrícolas dos Bancos Comunitários de Sementes (Coppabacs) de Alagoas, realizou nos dias 21 e 22 de novembro Intercâmbio Interestadual entre os agricultores/as dos municípios de Inajá, Carnaubeira da Penha e Belém de São Francisco que acessarão as tecnologias sociais do P1+2 para a produção de alimentos e os agricultores/as das comunidades Camoxinga-2, Lage dos Barbosas e Sítio Cabaceiras em Santana do Ipanema, Sertão alagoano, garantindo a troca de saberes e o conhecimento em torno dos Bancos de Sementes Crioulas (Comunitário e Individual), experiências exitosas desenvolvidas pelos anfitriões.

No primeiro momento, os agricultores/as foram acolhidos no Sítio da família do agricultor Josenildo Alves Silva, presidente da Associação Comunitária Camoxinga-2 e coordenador do Banco de Sementes. Após a apresentação dos participantes e o café da manhã oferecido pela família, iniciou-se as atividades do dia.

Subindo e descendo a pé as elevações montanhosas do local, em um contato estreito e prazeroso com a mãe natureza, os agricultores/as visitaram as experiências casa a casa, acompanhados por Josenildo que esclareceu as dúvidas em relação ao Banco Comunitário de Sementes (BSC), as criações de galinhas caipira e a criação de bovinos e ovinos,  projetos que surgiram depois do Banco de Sementes.

Sementes Crioulas
São aquelas que não sofreram modificações genéticas por meio de técnicas, como de melhoramento genético. Estas sementes são chamadas de crioulas ou nativas porque, geralmente, seu manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos etc.

Banco Comunitário de Sementes
De acordo com o líder Josenildo a Associação é formada por 18 sócios que se ajudam mutuamente e dividem as conquistas da organização. Ele afirma ainda que o regimento da entidade estabelece os critérios de participação e é respeitado pelos associados. O processo de devolução das sementes (grãos) selecionadas era de 50% para cada 2 kg emprestados. Com o aumento do estoque da Associação, esse percentual diminuiu para 15%. Já com as sementes animais (ovino ou bovino), o retorno é de 100%, (1x1). Cada família é responsável pela seleção das sementes que serão devolvidas ao Banco, porém, existe uma comissão que faz a triagem.

À tarde a visita aconteceu na Comunidade Lage dos Barbosas, onde foi conhecido o projeto de criação de galinhas caipira do senhor Flamarion Rodrigues e dona Maria Nazaré. Paciente e muito receptivo, o produtor apresentou sua experiência quanto o manejo, espaços necessários para criação, alimentação, tratamento e cuidados, separação das aves para corte e postura. A família entrega a produção à Associação dos Apicultores de Santana do Ipanema, fundada a 05 anos, que vende para o PNAE e a CONAB. São apanhados em torno de 150 ovos dia, distribuídos em bandejas com 30 unidades e vendidas a R$ 10,00 reais cada. “Dá pra tirar um dinheirinho bom”, diz Flamarion, que incentiva os agricultores/as pernambucanos a desenvolveram este projeto.

Banco de Sementes Familiar
Agricultor Sebastião Damasceno
Guardião das Sementes Crioulas de Alagoas
Outra importante experiência conhecida foi o Banco de sementes familiar (BF) do agricultor Sebastião Damasceno da comunidade Sítio Cabaceiras, município de Santana do Ipanema-AL. Ele diz ter uma paixão muito grande pelas “Sementes da Resistência”. Ele e sua família plantam, guardam e protegem em torno de 50 espécies de sementes que são armazenadas em garrafas Pet e vasos. “Tenho uma paixão pelas sementes desde criança porque aprendi com meus avós e meus pais a selecionar e cuidar delas. Hoje guardamos sementes de milho jabotão, batité, branco tradicional, milho sorgo, algumas variedades de milho de pipoca, vários tipos de feijão, inclusive uma de origem japonesa adaptada ao clima do Brasil à 100 anos, além de sementes de favas e leguminosas”, conta seu Sebastião.

Na oportunidade, o Secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Santana do Ipanema, Luiz Carlos, que esteve presente à visita, parabenizou seu Sebastião Damasceno e disse que ele “é um grande exemplo para os agricultores/as do município e do Semiário”, e merece maior atenção, apoio e acesso as políticas públicas de desenvolvimento rural. Ele aproveitou ainda para anunciar que a secretaria de agricultura irá plantar 33 tarefas de palmas em um projeto piloto em parceria com a Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) e irá doar aos criadores.

No segundo dia do intercâmbio , os agricultores retornaram à comunidade Camoxinga-2 para um debate sobre as percepções individuais das experiências visitadas, esclarecimentos e conclusões dos trabalhos.

Coppabacs
Inicialmente, o Coordenador do P1+2/MDS/Coppabacs, Edjofe dos Santos, fez um breve histórico sobre a Cooperativa dos bancos comunitários de sementes. Estes bancos surgiram na década de 80 a partir do trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), onde começaram a trabalhar a problemática das sementes, da terra, da água, etc... Nas reuniões, que muitas vezes eram às escondidas por causa do sistema opressor da época, surge a ideia da roça comunitária para garantir sementes de forma coletiva, daí, surge o primeiro Banco de Sementes na região, onde o mesmo tinha e tem o objetivo de guardar a semente de forma coletiva, para garantir o plantio de cada ano. “A dependência das sementes do governo era total e às vezes o plantio era frustrado porque elas não chegavam. Com os bancos de sementes criados, esta dificuldade foi sanada”, diz Edjofe. Ele lembrou ainda que a aprovação da Lei de Banco de Sementes, Lei Estadual Nº 6.903/2008, foi um marco na história de luta dos trabalhadores/as familiares e da ASA-Alagoas.

Polo Sindical – PE/BA
Elizado Falcão, Diretor da Secretaria de Convivência com o Semiárido do Polo Sindical falou do surgimento da entidade nos anos 70 a partir da luta dos trabalhadores/as atingidos pela barragem de Itaparica. Falou dos enfrentamentos e ocupações das instalações da CHESF e o acordo de 1986 que garantiu aos trabalhadores o direito a casa, terra, água e projeto irrigado. “Uma das dificuldades que o Polo ainda enfrente hoje nos projetos já em funcionamento é em relação ao uso de agrotóxicos pela facilidade e vontade de resultados imediatos”, disse.

ASA
Para uma maior compreensão dos agricultores/as sobre o conjunto de atividades desenvolvidas de forma sincronizadas pelas entidades que congregam a Articulação no Semiárido Brasileiro na perspectiva da convivência com o Semiárido, Sandro Rogério, coordenador do P1+2/Polo/Petrobras lembrou os aspectos históricos da constituição da ASA e a disseminação das tecnologias sociais por meio de parcerias.

Debate
Os agricultores/as visitantes interagiram com os sócios da Associação local tirando as dúvidas e conhecendo as etapas dos processos de implantação dos bancos de sementes. Para Josenildo, coordenador do Banco, o sucesso do projeto é um “Dom de Deus”. Ele completou dizendo que antes se guardava apenas para o consumo (comer), depois, com a necessidade, com a falta, surgiu à proposta. Também existia o medo de ficar dependendo do governo e das sementes transgênicas substituírem as sementes crioulas (da resistência).
Semente crioula ou nativa não é apenas semente e sim tudo aquilo que o agricultor usa para multiplicação e produção de alimentos a exemplo de batata, palma forrageiras, mandioca, animais, dentre outros. A semente além de ser um alimento, representa muito mais, pois, retrata a cultura de cada comunidade e o modo de viver de um povo. (Coppabacs)

Avaliação
Por fim, os agricultores/as avaliaram como muito positivo o intercâmbio, rico em ganho e troca de informações e saberes, além do valioso exemplo de união e organização da Comunidade Camuxinga-2. O senhor Elizeu de Belém do são Francisco disse que ficou muito feliz em vê a união dos agricultores/as e que “as experiências observadas serão disseminadas em suas organizações”. O diretor do Polo Falcão disse que o Polo fará o possível para ampliar o debate nas comunidades e colocará suas equipes e diretorias à disposição dos trabalhadores, “porque as coisas só acontecem quando a gente quer e se organiza”, disse.

Antes dos agradecimentos e conclusão do intercâmbio, José Tenório, Gerente Financeiro do P1+2/Polo, chamou a atenção para a proteção ao meio ambiente e destacou a falta de manejo adequado da caatinga, os desmatamentos desnecessários dos pés de serras e a falta de cuidado com os riachos, fundamentais na formação dos rios. Ele finalizou recitando a poesia:

BANCO DE SEMENTES

O SERTÃO BRASILEIRO
TEM UNS BANQUEIROS DIFERENTES
VIVEM COMO COMPANHEIROS 
TAMBÉM GOSTAM DE DINHEIROS
MAS TEM AMOR A GENTE

DE FORMA INTELIGENTE
NUMA POUPANÇA PREVENIDA
INVESTEM NO FUTURO DA VIDA
EM BANCOS DE SEMENTES

E A NATUREZA SENTE
O VALOR DOS INVESTIMENTOS
NO GERMINAR DAS SEMENTES
AUMENTA OS ALIMENTOS
E ENRIQUECE A COMUNIDADE
COM O VALOR DA AMIZADE
SOMA COM COMPARTILHAMENTO

NESTES ESTABELECIMENTOS
NÃO CABE A USURA
GUARDAM A HISTÓRIA DA AGRICULTURA
DOS QUILOMBOS DE PALMARES
SÃO NOTAS SECULARES
ORIGINAIS SEM RÉPLICAS
ABÓBORA, FAVA, FEIJÃO
TEM ESPIGAS DE MILHÃO
SEM TRANSFORMAÇÃO
GENÉTICA

NESTA ARITMÉTICA
O CAPITAL É O SENTIMENTO
DE SOLIDARIEDADE
A COMUNIDADE INSISTE
POIS SABE QUE ISTO NÃO EXISTE
NOS BANCOS DA CIDADE

COM HABILIDADE
SEMENTES DE VEGETAIS 
SEMENTES DE ANIMAIS
AUMENTAM A PROPRIEDADE
E CADA VEZ TENDO MAIS
VÃO SE TORNANDO IGUAIS 
NA NOSSA SOCIEDADE.


Outros Registros:




  






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