domingo, 15 de dezembro de 2013

Mudanças Socioeconômicas no Semiárido Brasileiro.

O Semiárido


Segundo dados oficiais do Ministério da Integração, o Semiárido brasileiro abrange uma área de 969.589,4 km² e compreende 1.133 municípios de nove estados do nordeste: Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e Sergipe e o norte do estado sudeste de Minas Gerais. Nessa região, vivem 22 milhões de pessoas, que representam 11,8% da população brasileira, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O Semiárido tem a maior parte do seu território coberto pela Caatinga -, único bioma exclusivamente brasileiro -, rico em espécies endêmicas, ou seja, que não existem em nenhum outro lugar do mundo. A composição florística da Caatinga não é uniforme em toda a sua extensão. Apresenta grande variedade de paisagens, de espécies animal e vegetal, nativas e adaptadas. 
  
Outra característica, é o déficit hídrico. Mas, isso não significa falta de água. Pelo contrário, é o semiárido mais chuvoso do planeta. A média pluviométrica vai de 200 mm a 1000 mm anuais, dependendo da região. Porém, as chuvas são irregulares no tempo e no espaço, isso significa que em períodos de inverno (como são chamadas na região a épocas das chuvas), chove em um único mês uma quantidade que poderia ser distribuída em três meses. Além disso, a quantidade de chuva é menor do que o índice de evaporação, que é de 3 mil mm/ano, ou seja, a evaporação é três vezes maior do que a de chuva que cai.  

Essa concentração rebate também na questão da água, apresentando reflexos em diversas dimensões da vida das pessoas. Atualmente 67% das famílias rurais nos estados que compõem o Semiárido não possuem acesso à rede geral de abastecimento de água, sendo que 43% utilizam poços ou nascentes, e 24% utilizam outras formas de acessar a água, que compreendem inclusive, buscas em fontes distantes, com longas caminhadas diárias, para o uso de uma água muitas vezes inadequada ao consumo humano.

Nesse contexto, a dificuldade no acesso à água, que em parte seria resultado do índice pluviométrico e da elevada taxa de evapotranspiração, é consequência, mais do que tudo, de uma política concentradora da água, através da qual uns poucos e privilegiados detêm a posse e uso de quase toda a água do Semiárido, enquanto outros morrem de sede.

Apesar do enorme potencial, o Semiárido é marcado por grandes desigualdades sociais. Segundo o Ministério da Integração Nacional mais da metade (58%) da população pobre do país vive na região. Estudos do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) demonstram que 67,4% das crianças e adolescentes no Semiárido são afetados pela pobreza. São quase nove milhões de crianças e adolescentes desprovidos dos direitos humanos e sociais mais básicos, e dos elementos indispensáveis ao seu desenvolvimento pleno.

As contradições e injustiças que ocorrem na região podem ser percebidas na distribuição e no acesso à renda, que refletem também em uma forte desigualdade de gênero. Metade da população no Semiárido não possui renda ou tem como única fonte de rendimento os benefícios governamentais (Bolsa Família). Essa realidade é calculada pelas estatísticas, é o reflexo de milhões de vidas que lutam cotidianamente sem o acesso aos direitos sociais e humanos mais fundamentais.

A Seca

Associado a estas questões está a SECA como principal protagonista. O fenômeno das secas no Semiárido se dá por causas naturais. Historicamente há o primeiro registro de seca feita pelo padre Fernão Cardin em 1583: "…uma grande seca e esterilidade na província e que 5 mil índios foram obrigados a fugir do sertão pela fome, socorrendo-se aos brancos". Desde então a região já enfrentou dezenas de secas, com pequenos períodos (02 anos), ou grandes secas como a de 1979 à 1983 que durou cinco anos e trouxeram como consequência fome e êxodo da população rural que era desprestigiada pela ações governamentais, contando apenas com a intenções da igreja que amenizavam na fé o sofrimento cotidiano.

A seca não é somente um fenômeno ambiental com consequências negativas, trata-se de um problema de distribuição dos recursos naturais, sobretudo da água, mas também sempre causou grande disparidade social. Prova disso nos conta os registros do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca – DNOCS que foi instituído em 1909 com o objetivo de construir grandes obras de enfrentamento à seca para garantir água a todos/as da região chamada de Polígono das Secas e que no exercício da má distribuição “premiava” com a até 70% do orçamento da obra, fazendeiros e prefeitos que solicitavam essas obras em suas propriedades.
Conhecidos como “Os Industriais da Seca” esses se utilizam da calamidade para conseguir mais verbas, incentivos fiscais, concessões de crédito e perdão de dividas valendo-se da propaganda de que o povo estava morrendo de fome.

Junto à isto, está o voto de cabresto, no qual as verbas vindas em prol da seca são desviadas e usadas pelos "Industriais da Seca", para compra de votos, fazendo com que seus trabalhadores  votem no político o qual lhe repassou o recurso. Essa "indústria" aumentou ainda mais as disparidades entre proprietários e trabalhadores rurais. Essa situação serviu para preservar o coronelismo e muitas vezes reforçar o clientelismo. Algumas soluções para à seca foram formuladas, entretanto, têm-se interesse na continuidade do problema, para que a população continue apoiando os políticos através da  venda de votos.

Convivência com o Semiárido Brasileiro.

Nadando contra a maré, a sociedade civil organizada atuante no meio rural, empenha-se em uma proposta de sustentabilidade social e preservação ambiental. A estratégia tem sido defendida por aqueles e aquelas que rejeitam a ideia da inviabilidade da região e postulam a convivência com o semiárido como alternativa à estratégia de combate a seca, considerando o ambiente a partir dos seus agroecossistemas e tendo como principais protagonistas os/as agricultores/as familiares.

Nesse sentido, surge a necessidade de debater efetivamente a reforma agrária, o fomento e o estímulo ao desenvolvimento de tecnologias sociais para o manejo dos recursos hídricos e alimentos (além das políticas ineficientes e inadequadas em irrigação), bem como o estímulo a uma produção agropecuária contextualizada e apropriada ao ecossistema local. Também parece ser necessário rever os aspectos normativos, o perfil político e tecnoburocrático das instituições e agentes que gerenciam as políticas públicas na região do semiárido.

A construção da proposta de convivência com o semiárido tem sua gênese nas iniciativas dos sindicatos de trabalhadores/as rurais, nas organizações não governamentais, nas associações e cooperativas de base rural e nas igrejas católicas e evangélicas,  essas veem desenvolvendo projetos nas áreas de recursos hídricos, produtivas e socioculturais desde a década de 1970. A proposta ganhou impulso significativo em 1999, com o surgimento da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA), com a missão de fortalecer a sociedade civil na construção de processos participativos para o desenvolvimento sustentável e a convivência com o Semiárido referenciados em valores culturais e de justiça social.

  
Fruto dessa articulação, foram formulados e estão sendo implementados os Programa de Formação e Mobilização Social para a Convivência com o Semiárido: Um Milhão de Cisternas Rurais (P1MC) e Uma Terra e Duas Águas (P1+2). Com a participação da sociedade civil e a articulação de diferentes órgãos e esferas governamentais, esses programas veem estabelecer um processo de mobilização e capacitação das famílias, abordando questões de convivência com o semiárido como, gerenciamento de recursos hídricos, segurança alimentar e nutricional, cidadania, relações de gênero, raça e etnia, e estocagem para ração animal. Essa iniciativa pretende garantir o acesso à tecnologias sócias de captação e armazenamento de água de chuva.

A valorização da captação e armazenamento adequado da água de chuva é apenas o início de uma mudança cultural que se pretende construir na região. Embora tenha mais espaço entre organizações da sociedade civil, a perspectiva da convivência com o semiárido começa a perpassar programas governamentais e torna-se leis de políticas publicas. Percebe-se, no entanto, que a institucionalização do discurso da convivência ainda não foi suficiente para promover as mudanças efetivas na intervenção governamental naquela realidade. Apesar da abertura ao debate sobre alternativas para convivência, o governo demonstra, muita vezes, maior interesse com as alternativas de racionalização dos custos dos programas governamentais na região do que com a efetiva implementação de ações inovadoras.

Mesmo assim ações estruturantes veem sido solicitadas junto aos governos nas esferas federal e estaduais que timidamente vem sendo atendidas, porém com um caráter emergencial de Combate a Seca. Os programas e políticas governamentais ainda não conseguem conceber e não adotam o conceito de convivência. Nunca construíram um programa ou plano de convivência que anteceda as causas naturais provocadas pelas secas. Isso significa que para construir um programa ou plano de convivência é necessário ouvi a população e construir junto, porque essa construção tem que ser diferente, tem que atender a diversidade existente na região e que nunca será compreendida de dentro de um gabinete.

Apoiados pelos ideais de convivência com o semiárido, agricultores e agricultoras veem suas vidas sendo transformadas socioeconomicamente pela as ações dos Programas de Formação e Mobilização Social da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA). Ações estas, que em um contexto de desigualdade social, mostra que é possível reduzir a desigualdade e está em harmonia com o meio ambiente, valorizar a cidadania e efetivar a sustentabilidade com a produção agroecológica.

A agricultura familiar ganhou força e as dificuldades se transformaram em trabalho que garantem a segurança alimentar e nutricional das famílias, onde estas passaram a perceber que com pequenas soluções a vida poderia ser mais farta e próspera. Motivadas pela possibilidade de aumentar sua produção sem agredir o meio ambiente através de tecnologias sociais como as cisternas de captação de água para o consumo humano e a produção de alimentos, agricultores e agricultora comercializam o excedente de sua produção em diversas feiras agroecológicas espalhadas pelo semiárido, organizam-se em torno de banco de sementes, onde garantem a preservação de sementes nativas e crioulas, envolvem-se em processos de formação continuada e debatem gênero e geração em contextos rurais.

A potencialidade da região agregada a investimentos em políticas publica para o desenvolvimento sustentável são mecanismos para a redução da desigualdade social que simultaneamente irá à contramão da história de “Combate a Seca”. Em um cenário com inúmeras desigualdades, são também múltiplas as alternativas e estratégias possíveis para reduzir a desigualdade social. Mulheres e homens portadores de um vasto saber adquirido a partir da observação aprenderam a arte de conviver, que os remete a uma relação de profundo conhecimento do outro e respeito pelo seu modo de ser. Esse conhecimento constrói as melhores técnicas de convivência que vem garantindo sua permanência na região.
   

A Desigualdade Social existente ainda no semiárido brasileiro aos pouco vem sendo reduzida através da articulação entre estado e sociedade civil organizada. Apontamos aqui as ações de ambos e reconhecemos que existem pensamentos e correntes que querem consolidar estas ações com praticas e tecnologias inovadoras dentro dos espaços de controle social existentes nos 1.133 municípios do semiárido. É importante ressaltar que quando a agricultura familiar estiver completamente envolvida em projetos de desenvolvimento, poderemos enfim dizer que vivemos em um semiárido sustentável, solidário e justo.

Sandro Rogério
Coordenador Técnico

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Celebração: mais 10 mil famílias com tecnologias para produção de alimentos

Por Catarina de Angola (ASACom)


Primeira cisterna-calçadão realizada em 2013 com patrocínio da Petrobras.
Foto: Vlademir Alexandre | ASACom
A Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) celebra a marca de mais 10 mil tecnologias sociais de captação e armazenamento de água da chuva construídas no Semiárido pelo Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) com o patrocínio da Petrobras, através do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania. Resultado alcançado seis meses após o início do projeto, que prevê a construção de 20 mil tecnologias até maio de 2014. Desde que surgiu, em 2007, o P1+2 já implementou mais de 35 mil tecnologias em todo o Semiárido brasileiro.

“Destaco a importância desse contrato com a Petrobras, pois amplia nosso leque de parcerias e apoios. E amplia também o número de organizações que apostam na perspectiva de convivência com o Semiárido que a gente acredita”, pontua Cristina Nascimento, coordenadora da ASA pelo estado do Ceará. 

As primeiras tecnologias do P1+2 realizadas através desse patrocínio foram inauguradas em julho deste ano, no Rio Grande do Norte. De lá para cá, as 65 organizações da ASA que executam a ação em todos os estados da região semiárida implementaram quatro tipos de tecnologias: cisternas-calçadão, cisternas-enxurrada, barreiros-trincheira e barragens subterrâneas. Todas elas estocam água da chuva para a produção de alimentos e criação de animais.

“A cada novo parceiro, a gente tem a possibilidade de ampliar o processo produtivo, a capacidade de produção de alimentos, a segurança alimentar e a comercialização dessas famílias. Isso tudo tem um impacto grande na dinâmica do Semiárido. Quando a gente imagina que em seis meses conseguimos executar 10 mil implementações, são 10 mil famílias que estão preparadas para estocar água do próximo inverno”, coloca Cristina.  

A execução do P1+2 não se restringe apenas a construção das tecnologias. Existe um processo de mobilização das comunidades e de capacitação das famílias e dos/as pedreiros/as. Além disso, envolve intercâmbios entre agricultores e agricultoras, a participação deles/as em encontros e atividades de troca de conhecimentos e a sistematização de experiências. 

A formação de bancos de sementes também compõe a estratégia de estocagem  do P1+2,  o que possibilita a organização coletiva das comunidades para que possam guardar suas sementes e usá-las nas épocas de plantio. Com isso, agricultores e agricultoras passam a ter autonomia sobre o que plantar e quando plantar, não ficando dependentes das sementes distribuídas pelo governo, que não são adaptadas a região. “A ação do P1+2 é uma ação integrada. Você tem a água, tem a semente e autonomia sobre o seu processo produtivo”, destaca Cristina.  

Toda essa ação é baseada na troca de conhecimento de agricultores e agricultoras. E os intercâmbios de experiências e encontros que o P1+2 promove fortalecem essa troca. “O central da ação da ASA não é tecnologia, mas são os agricultores. A valorização do saber de homens e mulheres, a valorização dessas experiências”, destaca Cristina. Esses momentos de troca possibilitam a partilha de saberes e as formas de se conviver com o Semiárido. Os encontros e intercâmbios mostram que os agricultores/as têm estratégias para esses momentos, pois são conhecedores da região e do clima que vivem. E as tecnologias que guardam água da chuva, os bancos que guardam as sementes, e as diversas outras formas de estocagem são umas das estratégias mais importantes para a vida e produção na região semiárida.

Além das 10 mil tecnologias construídas nesses seis meses, as organizações da ASA executoras desse contrato de patrocínio já cadastraram 95% das famílias previstas para receberem as tecnologias e cerca de 90% das implementações já estão com fornecedores contratados para a entrega dos materiais. Até maio de 2014, as 20 mil tecnologias devem estar finalizadas, o que significa que cerca de 100 mil pessoas no Semiárido terão a possibilidade de guardar água para dinamizar sua produção. No total serão 10 mil cisternas-calçadão, 6.450 cisternas-enxurrada, 3.330 barreiros-trincheira e 250 barragens subterrâneas. 

“Ampliamos nossa capacidade de execução, mas, além disso, ampliamos a capacidade de monitoramento e fortalecemos nossa prática de rede. Também continuamos nossa ação com autonomia dos processos políticos e metodológicos e isso é importante porque nos dá força”, finaliza Cristina. 

Além do patrocínio da Petrobras, o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) conta com a parceria do governo federal, através do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS).

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Poesia da Semana

Por José tenório dos Santos
Zé de Ló

VIRGEM MÃE

O GRANDE DESAFIO
É A SUSTENTABILIDADE
EDUCAR A HUMANIDADE
PARA TER O AMBIENTE SADIO
A TERRA NO CIO
OBSTÁCULOS TRANSPÕE
A CAATINGA SE RECOMPÕE
CONSERVA-SE PARA ETERNIDADE
NÃO PRECISA PERDER A VIRGINDADE
PARA SER MÃE

SERTANEJO CABRA MACHO
A NATUREZA É MENINA
QUEM DESVIRGINA A CAATINGA
AGRIDE OS RIACHOS
DEIXA O SERTÃO CABISBAIXO
A HUMANIDADE SEM BRIO
O PLANETA JUVENIL
SE AFOGANDO EM MÁGOAS
SEM A PUREZA DAS ÁGUAS
E O FUTURO DOS RIOS

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Sertão de Itaparica discute propostas para o Plano Estadual de Convivência com o Semiárido em Serra Talhada

                                     Crédito: Josiel Araújo*
Mesa de Abertura: Aldo Santos
Secretário Estadual da Agricultura Familiar
Nesta quarta (27), o município de Serra Talhada sediou a segunda Conferência Regional de Convivência com o Semiárido promovida pelo Governo do Estado, sob a coordenação da Secretaria de Agricultura e Reforma Agrária, com o objetivo de estabelecer metas, ações e diretrizes para o Plano Estadual de convivência com Semiárido pernambucano.

Adimilson Nunis
Coord. Geral do Polo Sindical PE/BA
O Polo Sindical do/as Trabalhadores/as Rurais do Submédio São Francisco – PE/BA, como sempre fez, participou das discussões por meio dos seus representantes Adimilson Nunis (Coordenador Geral), Sandro Rogério (Coord. do P1+2) e Josiel Araújo (Comunicador), apresentando propostas concretas nos vários eixos temáticos abordados. Além do Polo, outros atores da região do Sertão de Itaparica se fizerm presentes, como: agricultores/as familiares de Tacaratú, Floresta, Carnaubeira da Penha, Itacuruba e Belém do São Francsico; diretores dos STR’s, Conselhos Municipais de Desenvolvimento, Movimento Sem Terra, Ong’s, Câmaras de vereadores e prefeituras. Na oportunidade, Adimilson Nunis compôs a mesa de abertura e representou a FETAPE. Para ele “a maior importância é a participação dos agricultores e agricultoras familiares neste contexto”, porque garantem que suas propostas sejam incluídas na redação final do Plano de Convivência com o Semiárido, e, posteriormente implementadas.

Segundo o Secretário Estadual de Agricultura Familiar Aldo Santos, as conferências são muito importantes porque garantem ao estado um panorama geral e mais realista do Semiárido a partir do debate, discussões e proposições dos trabalhadores/as do campo, dos técnicos, organizações sociais e gestores das Regiões de Desenvolvimento (RD’s) do estado.


Entre as propostas apresentadas destacaram-se a ampliação da construção de barragens, poços, cisternas, adequação do crédito rural à realidade de cada região, a inclusão de disciplinas sobre a convivência com o semiárido no currículo escolar, além  da melhoria na divulgação das previsões climáticas pelas entidades meteorológicas.

No eixo “Acesso à água”, o Polo Sindical propôs que o estado garanta água para o consumo humano, animal e produção de alimentos aos agricultores e agricultoras familiares através da construção de adutoras em todas as cidades que estejam distantes até 50 km dos rios. Esta proposta recebeu apoio de todos os participantes do grupo de trabalho.


Ainda serão realizadas mais três conferências regionais, sendo: A terceira no Agreste Meridional, Garanhuns (28), a quarta no Agreste Central - Caruaru (04/12) e a quinta em Surubim (05/12) no Agreste Setentrional; culminando nos dias 11 e 12 de dezembro com a Conferência Estadual que será realizada no Recife.

Áudio e vídeo em nossa página inicial.

*Comunicador Popular

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Região de Salgueiro inicia debate em torno do Plano de Convivência com o Semiárido pernambucano

Por Josiel Araújo - Comunicador/Polo Sindical

Com a aprovação da Lei Estadual  14.922/2013, o Semiárido pernambucano vivencia um momento ímpar, que logo será materializado na construção de um Plano de Convivência com o Semiárido para Pernambuco. Para isso, serão realizadas nos próximos dias cinco Conferências Regionais de Convivência com o Semiárido, abrangendo as Rds (regiões de desenvolvimento) no estado.

Nesta terça-feira (26) será realizada em Salgueiro a primeira Conferência, que terá a participação de 180 a 200 pessoas, representantes da sociedade civil, dos conselhos municipais de desenvolvimento, poder público municipal e estadual, de associações, comunidades e povos tradicionais dos 25 municípios das regiões do Sertão do Araripe, Sertão Central e Sertão São Francisco. O evento começa às 8h no Plaza Hotel, localizado na Avenida Veremundo Soares.

Estes encontros regionais formatarão as propostas, diretrizes e ações para a construção do Plano Estadual de Convivência com o Semiárido pernambucano, com o objetivo de promover o desenvolvimento rural sustentável, garantindo aos trabalhadores/as rurais os meios necessários para a convivência com as condições adversas do clima Semiárido, especialmente nos períodos de longas estiagens. 

Veja a programação completa das Conferências:

RD
Municípios
Município sede da Conferência(*)
Data
Nº de Participantes
Nº médio por município
SERTÃO DO ARARIPE
10

180 a 200
06
SERTÃO CENTRAL
8
Salgueiro

SERTÃO SÃO FRANCISCO
7
26/11

SERTÃO ITAPARICA
7


06
SERTÃO DO PAJEÚ
17
Serra Talhada
200 a 220

SERTÃO DO MOXOTÓ
7
27/11


AGRESTE MERIDIONAL
26
Garanhuns – 28/11
150 a 180
06
AGRESTE CENTRAL
25
Caruaru – 04/12
150 a 180
06
AGRESTE SETENTRIONAL
15
Surubim – 05/12
105 a 120
0

domingo, 24 de novembro de 2013

Agricultores e agricultoras pernambucanos participam de intercâmbio em Santana do Ipanema-AL

Por Josiel Araújo - Comunicador
Intercâmbio Interestadual /Pernambuco-Alagoas
Polo Sindical-Coppabacs
Os intercâmbios fazem parte das atividades do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação no Semiárido Brasileiro (ASA) com patrocínio da Petrobras e têm como objetivo a troca de experiências e saberes acumulados entre agricultores e agricultoras do Semiárido brasileiro.

Neste sentido, o Polo Sindical dos/as Trabalhadores/as Rurais do Submédio São Francisco – PE/BA, com o total apoio da Cooperativa dos Pequenos Agricultores Agrícolas dos Bancos Comunitários de Sementes (Coppabacs) de Alagoas, realizou nos dias 21 e 22 de novembro Intercâmbio Interestadual entre os agricultores/as dos municípios de Inajá, Carnaubeira da Penha e Belém de São Francisco que acessarão as tecnologias sociais do P1+2 para a produção de alimentos e os agricultores/as das comunidades Camoxinga-2, Lage dos Barbosas e Sítio Cabaceiras em Santana do Ipanema, Sertão alagoano, garantindo a troca de saberes e o conhecimento em torno dos Bancos de Sementes Crioulas (Comunitário e Individual), experiências exitosas desenvolvidas pelos anfitriões.

No primeiro momento, os agricultores/as foram acolhidos no Sítio da família do agricultor Josenildo Alves Silva, presidente da Associação Comunitária Camoxinga-2 e coordenador do Banco de Sementes. Após a apresentação dos participantes e o café da manhã oferecido pela família, iniciou-se as atividades do dia.

Subindo e descendo a pé as elevações montanhosas do local, em um contato estreito e prazeroso com a mãe natureza, os agricultores/as visitaram as experiências casa a casa, acompanhados por Josenildo que esclareceu as dúvidas em relação ao Banco Comunitário de Sementes (BSC), as criações de galinhas caipira e a criação de bovinos e ovinos,  projetos que surgiram depois do Banco de Sementes.

Sementes Crioulas
São aquelas que não sofreram modificações genéticas por meio de técnicas, como de melhoramento genético. Estas sementes são chamadas de crioulas ou nativas porque, geralmente, seu manejo foi desenvolvido por comunidades tradicionais, como indígenas, quilombolas, ribeirinhos, caboclos etc.

Banco Comunitário de Sementes
De acordo com o líder Josenildo a Associação é formada por 18 sócios que se ajudam mutuamente e dividem as conquistas da organização. Ele afirma ainda que o regimento da entidade estabelece os critérios de participação e é respeitado pelos associados. O processo de devolução das sementes (grãos) selecionadas era de 50% para cada 2 kg emprestados. Com o aumento do estoque da Associação, esse percentual diminuiu para 15%. Já com as sementes animais (ovino ou bovino), o retorno é de 100%, (1x1). Cada família é responsável pela seleção das sementes que serão devolvidas ao Banco, porém, existe uma comissão que faz a triagem.

À tarde a visita aconteceu na Comunidade Lage dos Barbosas, onde foi conhecido o projeto de criação de galinhas caipira do senhor Flamarion Rodrigues e dona Maria Nazaré. Paciente e muito receptivo, o produtor apresentou sua experiência quanto o manejo, espaços necessários para criação, alimentação, tratamento e cuidados, separação das aves para corte e postura. A família entrega a produção à Associação dos Apicultores de Santana do Ipanema, fundada a 05 anos, que vende para o PNAE e a CONAB. São apanhados em torno de 150 ovos dia, distribuídos em bandejas com 30 unidades e vendidas a R$ 10,00 reais cada. “Dá pra tirar um dinheirinho bom”, diz Flamarion, que incentiva os agricultores/as pernambucanos a desenvolveram este projeto.

Banco de Sementes Familiar
Agricultor Sebastião Damasceno
Guardião das Sementes Crioulas de Alagoas
Outra importante experiência conhecida foi o Banco de sementes familiar (BF) do agricultor Sebastião Damasceno da comunidade Sítio Cabaceiras, município de Santana do Ipanema-AL. Ele diz ter uma paixão muito grande pelas “Sementes da Resistência”. Ele e sua família plantam, guardam e protegem em torno de 50 espécies de sementes que são armazenadas em garrafas Pet e vasos. “Tenho uma paixão pelas sementes desde criança porque aprendi com meus avós e meus pais a selecionar e cuidar delas. Hoje guardamos sementes de milho jabotão, batité, branco tradicional, milho sorgo, algumas variedades de milho de pipoca, vários tipos de feijão, inclusive uma de origem japonesa adaptada ao clima do Brasil à 100 anos, além de sementes de favas e leguminosas”, conta seu Sebastião.

Na oportunidade, o Secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Santana do Ipanema, Luiz Carlos, que esteve presente à visita, parabenizou seu Sebastião Damasceno e disse que ele “é um grande exemplo para os agricultores/as do município e do Semiário”, e merece maior atenção, apoio e acesso as políticas públicas de desenvolvimento rural. Ele aproveitou ainda para anunciar que a secretaria de agricultura irá plantar 33 tarefas de palmas em um projeto piloto em parceria com a Universidade Estadual de Alagoas (UNEAL) e irá doar aos criadores.

No segundo dia do intercâmbio , os agricultores retornaram à comunidade Camoxinga-2 para um debate sobre as percepções individuais das experiências visitadas, esclarecimentos e conclusões dos trabalhos.

Coppabacs
Inicialmente, o Coordenador do P1+2/MDS/Coppabacs, Edjofe dos Santos, fez um breve histórico sobre a Cooperativa dos bancos comunitários de sementes. Estes bancos surgiram na década de 80 a partir do trabalho das Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), onde começaram a trabalhar a problemática das sementes, da terra, da água, etc... Nas reuniões, que muitas vezes eram às escondidas por causa do sistema opressor da época, surge a ideia da roça comunitária para garantir sementes de forma coletiva, daí, surge o primeiro Banco de Sementes na região, onde o mesmo tinha e tem o objetivo de guardar a semente de forma coletiva, para garantir o plantio de cada ano. “A dependência das sementes do governo era total e às vezes o plantio era frustrado porque elas não chegavam. Com os bancos de sementes criados, esta dificuldade foi sanada”, diz Edjofe. Ele lembrou ainda que a aprovação da Lei de Banco de Sementes, Lei Estadual Nº 6.903/2008, foi um marco na história de luta dos trabalhadores/as familiares e da ASA-Alagoas.

Polo Sindical – PE/BA
Elizado Falcão, Diretor da Secretaria de Convivência com o Semiárido do Polo Sindical falou do surgimento da entidade nos anos 70 a partir da luta dos trabalhadores/as atingidos pela barragem de Itaparica. Falou dos enfrentamentos e ocupações das instalações da CHESF e o acordo de 1986 que garantiu aos trabalhadores o direito a casa, terra, água e projeto irrigado. “Uma das dificuldades que o Polo ainda enfrente hoje nos projetos já em funcionamento é em relação ao uso de agrotóxicos pela facilidade e vontade de resultados imediatos”, disse.

ASA
Para uma maior compreensão dos agricultores/as sobre o conjunto de atividades desenvolvidas de forma sincronizadas pelas entidades que congregam a Articulação no Semiárido Brasileiro na perspectiva da convivência com o Semiárido, Sandro Rogério, coordenador do P1+2/Polo/Petrobras lembrou os aspectos históricos da constituição da ASA e a disseminação das tecnologias sociais por meio de parcerias.

Debate
Os agricultores/as visitantes interagiram com os sócios da Associação local tirando as dúvidas e conhecendo as etapas dos processos de implantação dos bancos de sementes. Para Josenildo, coordenador do Banco, o sucesso do projeto é um “Dom de Deus”. Ele completou dizendo que antes se guardava apenas para o consumo (comer), depois, com a necessidade, com a falta, surgiu à proposta. Também existia o medo de ficar dependendo do governo e das sementes transgênicas substituírem as sementes crioulas (da resistência).
Semente crioula ou nativa não é apenas semente e sim tudo aquilo que o agricultor usa para multiplicação e produção de alimentos a exemplo de batata, palma forrageiras, mandioca, animais, dentre outros. A semente além de ser um alimento, representa muito mais, pois, retrata a cultura de cada comunidade e o modo de viver de um povo. (Coppabacs)

Avaliação
Por fim, os agricultores/as avaliaram como muito positivo o intercâmbio, rico em ganho e troca de informações e saberes, além do valioso exemplo de união e organização da Comunidade Camuxinga-2. O senhor Elizeu de Belém do são Francisco disse que ficou muito feliz em vê a união dos agricultores/as e que “as experiências observadas serão disseminadas em suas organizações”. O diretor do Polo Falcão disse que o Polo fará o possível para ampliar o debate nas comunidades e colocará suas equipes e diretorias à disposição dos trabalhadores, “porque as coisas só acontecem quando a gente quer e se organiza”, disse.

Antes dos agradecimentos e conclusão do intercâmbio, José Tenório, Gerente Financeiro do P1+2/Polo, chamou a atenção para a proteção ao meio ambiente e destacou a falta de manejo adequado da caatinga, os desmatamentos desnecessários dos pés de serras e a falta de cuidado com os riachos, fundamentais na formação dos rios. Ele finalizou recitando a poesia:

BANCO DE SEMENTES

O SERTÃO BRASILEIRO
TEM UNS BANQUEIROS DIFERENTES
VIVEM COMO COMPANHEIROS 
TAMBÉM GOSTAM DE DINHEIROS
MAS TEM AMOR A GENTE

DE FORMA INTELIGENTE
NUMA POUPANÇA PREVENIDA
INVESTEM NO FUTURO DA VIDA
EM BANCOS DE SEMENTES

E A NATUREZA SENTE
O VALOR DOS INVESTIMENTOS
NO GERMINAR DAS SEMENTES
AUMENTA OS ALIMENTOS
E ENRIQUECE A COMUNIDADE
COM O VALOR DA AMIZADE
SOMA COM COMPARTILHAMENTO

NESTES ESTABELECIMENTOS
NÃO CABE A USURA
GUARDAM A HISTÓRIA DA AGRICULTURA
DOS QUILOMBOS DE PALMARES
SÃO NOTAS SECULARES
ORIGINAIS SEM RÉPLICAS
ABÓBORA, FAVA, FEIJÃO
TEM ESPIGAS DE MILHÃO
SEM TRANSFORMAÇÃO
GENÉTICA

NESTA ARITMÉTICA
O CAPITAL É O SENTIMENTO
DE SOLIDARIEDADE
A COMUNIDADE INSISTE
POIS SABE QUE ISTO NÃO EXISTE
NOS BANCOS DA CIDADE

COM HABILIDADE
SEMENTES DE VEGETAIS 
SEMENTES DE ANIMAIS
AUMENTAM A PROPRIEDADE
E CADA VEZ TENDO MAIS
VÃO SE TORNANDO IGUAIS 
NA NOSSA SOCIEDADE.


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