Por Josiel Araújo Santos - Comunicador Popular/Polo Sindical-PE/BA
Foto: Arquivos do Polo Sindical
Fulgêncio Manoel da
Silva, 61 anos, era um homem do povo, da luta e de Deus. Dedicou 27 anos de sua
vida ao movimento sindical na região de Itaparica, Submédio São Francisco e
construiu um legado inestimável de amizades e de conquistas sociais junto com
trabalhadores/as e suas organizações sindicais.
A
principal delas foi o Reassentamento de
Itaparica, através do “Acordo de 86”, como ficou conhecido, garantindo aos
trabalhadores/as o direito à permanência na terra com casas, lotes irrigados,
área coletiva para agricultura de sequeiro, indenizações, linhas de crédito,
assistência técnica e o acompanhamento direto das entidades representativas no
processo de relocação das famílias. Sonhava e acredita com um reassentamento
livre, forte, produtivo, com viabilidade econômica e social e pregava a
autogestão dos projetos. Combativo, não se cansou de dizer não às privatizações
do governo, ao desrespeito com trabalhadores/as, à ganância dos latifundiários
e à violência.
Sua
luta em defesa dos direitos dos atingidos pela barragem de Itaparica e pela
cidadania dos trabalhadores/as rurais foi lembrada com a premiação “Medalha Chico Mendes de Resistência 2000”,
criada em 1989 e que é entregue todos os anos a 10 personalidades ou
instituições latino-americanas que se destacam na luta pelos direitos humanos.
Ato
contra as privatizações em Paulo Afonso -BA, 2000.
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Durante toda a sua trajetória como líder sindical, sempre agiu com simplicidade, humildade e dignidade, buscando conquistar através do diálogo os direitos do povo. Quando este cessava (o diálogo), a pressão e ocupação eram as únicas saídas encontradas; mas, sem perder a ternura. Esse jeito de lidar com as pessoas e as questões sociais era próprio de Fulgêncio que cultivava cada vez mais admiração e respeito de quem o conhecia. Sentimentos, estes, explícitos no texto de Creusa Lopes (2007): “Conheci “seu Fulgêncio” em 1991 quando vim trabalhar no Pólo Sindical, desde o inicio senti por ele uma grande admiração e respeito. A agrovila 43 passou a ser “meu quartel general”, ficava semanas inteiras na casa de dona Zefinha (sua irmã) e seu José Lima; juntos trabalhávamos nas agrovilas incentivando os/as reassentados/as a lutarem por suas terras e seus direitos. E com ele fui aprendendo muitas coisas e vendo meu respeito e admiração aumentar”.
Encontro
Internacional do MAB - Curitiba/PR, 1997.
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É
a este companheiro de todas as horas, homem sonhador, líder exemplar que doou a
sua vida em favor de muitos, participando diretamente dos Sindicatos de
Floresta (1970-1988) e Santa Maria da Boa Vista (1988), Coordenador nacional do
Movimento dos Atingidos por Barragem - MAB (1990-1993), integrante da direção
do Polo Sindical (1998), dentre outras atuações importantes, que o Polo
Sindical dos/as Trabalhadores/as Rurais do Submédio São Francisco – PE/BA, quer
homenagear neste dia, 16/10/2013, em que se completam 16 anos do seu brutal
assassinato; querendo, sobretudo, externar o sentimento de gratidão por tudo
aquilo que Fulgêncio construiu junto com os trabalhadores/as da nossa região, deixando
um legado material, social, educacional e cultural imensurável.
Esse
legado eternizou-se em seus versos, prosas e poesias por meio do Cordel, dos
quais se aproveitava também para denunciar e conscientizar os trabalhadores. Dentre
suas principais obras estão: “A cesta do governo Collor”; “Idéias para acabar
com a seca”; “O acampamento na Hidroelétrica de Itaparica” e “Autogestão”.
“A
todos reassentados
Preste
bem atenção
A
tudo que eu vou falar
Nessa
minha narração
No
meus versos vou falar
Pra
juntos nos preparar
Pra
futura autogestão.
Pra
quem não sabe o que é isso
Eu
quero aqui explicar
Auto
quer dizer dono
Com
direito de mandar
E
nessa outra questão
Que
se chama de gestão
Quer
dizer administrar”.
(Trecho do verso de Fulgêncio “Autogestão”)
Os
versos do passado nos remetem a uma profunda reflexão no presente da capacidade,
sensibilidade e sabedoria deste líder em fazer a leitura da vida e dos
acontecimentos a partir da caminha e da luta dos trabalhadores/as, das suas
aspirações por políticas públicas que contemplem os menos favorecidos e pelo
envolvimento da sociedade como um todo nos momentos decisivos para o rumo do
País. A autogestão dos projetos de reassentamentos defendida, propalada e
alertada por Fulgêncio ontem, é realidade hoje, e nos chama a atenção para o
posicionamento vigilante e combativo na defesa dos trabalhadores/as, mesmo
diante de um governo popular. Para isso, é preciso a manutenção do foco, o
surgimento de novos líderes, do resgate das bandeiras de luta através da
reorganização dos movimentos, pois, a caminhada ainda é longa, os percalços
ainda existem e no jogo de interesses os trabalhadores só ganharão se estiverem
unidos e organizados.
Fulgêncio
sempre foi referenciado e homenageado em várias obras populares pelos poetas do
povo como ele, de companheiros de luta, grupos, movimentos sociais e amigos,
como no poema: Fulgêncio, toda hora, todo dia! de José Tenório da Silva.
Fulgêncio só deixou exemplo
a ser seguido
sua vida foi um poema
de rimas e versos bonitos
só cantou a liberdade
deve está mais Castro Alves
fazendo versos pra Cristo
Vamos todos fazer
o que Fulgêncio queria
conscientes e unidos
viver a cidadania
mostrar que sua luta
não foi em vão
e que Ele vive em nosso coração
toda hora, todo dia!
“Sempre lembramos com pesar do
companheiro que nos deixou a 16 anos, mas também devemos aproveitar para avaliarmos
melhor as nossas ações e os nossos compromissos com reassentamento de Itaparica
à luz dos ensinamentos, da dedicação e dos sonhos de Fulgêncio que também são
nossos. A ele a nossa gratidão e a certeza de que a semente que ele plantou
continua germinando em nossos corações, em nossas almas e em nossas lutas por
justiça, igualdade, fraternidade, viabilidade econômica nos projetos, pois, o
sonho não acabou!”, enfatizou Adimilson Nunis, atual Coordenador do Polo
Sindical-PE/BA.
A
direção do Polo Sindical representada por Adimilson Nunis, Jorge Melo e Elizado
Falção esteve reunida no último dia 16/10/2013 no Projeto Fulgêncio com os diretores
dos Sindicatos dos Trabalhadores/as Rurais (STR’s), lideranças comunitárias e
Comissão Local dos Reassentados (CLR), prestando homenagens a Fulgêncio no dia
do aniversario de sua morte e organizando uma Agenda com as famílias
reassentadas para discutirem o Novo Convênio entre CHESF e CODEVASF que trata
da Transferência de Gestão e irá executar
algumas ações no Projeto Fulgêncio (ex. Caraíbas).
Assim
como a amiga Creuza Lopes, queremos pedir ao Inesquecível Líder Fulgêncio Manoel da Silva que de onde estiver
estenda o seu inseparável chapéu para cobrir e marcar com o sinal da esperança,
da justiça e da paz todos os reassentados de Itaparica que continuam a lutar, sem
cessar, acreditando em melhores dias.
Fontes: Creusa Lopes, Texto: A
Gente se Acostuma, mas não devia. 10/10/2007.
Arquivos:
Boletim Informativo do Polo
Sindical dos Trabalhadores/as Rurais do Submédio São Francisco-PE/BA.
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